Não há boas ditaduras.

Aviso à navegação: ao longo deste texto faço referência a algumas das passagens mais chocantes do livro Cisnes Selvagens de Jung Chang, editado pela Quetzal. Faço esta ressalva para que, caso mergulhem na leitura desta minha reflexão, não sejam apanhados desprevenidos.

Quando decidi ler Cisnes Selvagens não estava muito consciente do mundo que iria descobrir. Penso que é uma leitura que toda a gente devia fazer. Jung Chang apresenta uma narrativa de não ficção que abraça uma multiplicidade de estilos: um romance histórico autobiográfico.

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O que cabe neste livro?

Tu e Eu e Todos de Marcos Farina, Orfeu Negro

Que somos todos diferentes, isso já não é novidade. As crianças sabem ler muito bem as diferenças que existem entre si e não me refiro apenas às diferenças físicas: as maneiras de ser, os modos de estar também são comtempladas pelas avaliações que fazem às pessoas. Tal como acontece com os adultos, é natural sentirem mais empatia com uns colegas, do que com outros.

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Pode a palavra equilíbrio ser sinónima de ecossistema?

O Museu Nacional de História Natural e da Ciência inaugurou, como tantos outros museus, exposições em plena pandemia. Esta foi uma delas. Esta exposição comissariada por Cristina Branquinho desafia-nos a conhecer, dentro do espaço de 1200 metros quadrados, os principais ecossistemas portugueses, repartindo-se assim por dez ecossistemas: urbano, montanhoso, florestal (incluindo bosque, montado e estepe), maciços calcários (incluindo grutas), sistemas aquáticos (águas rápidas, águas lentas, paul), estuário, costa arenosa, costa rochosa, oceanos e ecossistemas insulares, com enfoque nos Açores e na Madeira.

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“Eu não morri”

No passado dia 23 de abril fui ver o espetáculo do Teatro Griot, O Riso dos Necrófagos na Culturgest. Dirigido por Zia Soares, esta peça de teatro/dança/performance está concebida, para nos captar a atenção e o pensamento. Este espetáculo é uma chamada de atenção para não perpetuar o esquecimento dos horrores vividos na Guerra da Trindade ou massacre de Batepá. Trata-se de mais um episódio sangrento fez parte do processo de desumanização que foi o colonialismo português.

Imagem: Teatro Griot
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“Passar a semana inteira a papar museus”

Na semana passada os museus reabriram pela segunda vez, após mais um confinamento que levou ao fecho das suas portas. Esta reabertura foi alvo de notícia por parte da comunicação social e também foi anunciada pela Direção Geral do Património Cultural. Mas confesso que o que mais me marcou foi a “reportagem” feita pelo Portugalex que ouvi na Antena3.

Porta do Museu Nacional de História Natural e da Ciência
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Escola online… outra vez.

Ontem começou mais uma temporada daquilo que, na essência, é tudo menos Escola. A Escola é para se viver com o corpo, com todos os sentidos possíveis, em comunhão com os que dela fazem parte. No entanto, tendo em conta as circunstâncias, compreendo esta tomada de decisão. Apenas lamento a azáfama em que os professores têm estado para preparar mais uma fase do ano letivo em modo digital, da mesma forma que partilho da angústia de muitos pais que se vêm sem mãos a medir para conseguirem teletrabalhar e dar apoio aos filhos.

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O que cabe neste livro?

Elefantes Não Entram de Lisa Mantchev ilustrado por Taeeun Yoo, Bichinho de Conto.

“Numa sociedade, se houver espaço, nunca há conflito”. Esta frase de Afonso Cruz (em “Jesus Cristo Bebia Cerveja”) podia muito bem ser uma apreciação deste Elefantes Não Entram. Como é que uma frase tão séria, de um livro para adultos, pode ser tão certeira para caracterizar um livro para crianças? Porque se trata de um livro que aborda um assunto muito sério e cada vez mais urgente. Esta história faz-nos refletir sobre a diferença que existe entre tolerar e conviver; entre aceitar diferenças e viver diariamente com elas. Viver numa aldeia global é isto. Como criar espaços de convivência harmoniosa e respeitadora quando atravessamos uma época em que, cada vez mais, se ouvem vozes segregacionistas? Como desconstruir os mitos à volta do outro, em que o ser diferente ou divergente é sinónimo de exclusão?

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