Pode a palavra equilíbrio ser sinónima de ecossistema?

O Museu Nacional de História Natural e da Ciência inaugurou, como tantos outros museus, exposições em plena pandemia. Esta foi uma delas. Esta exposição comissariada por Cristina Branquinho desafia-nos a conhecer, dentro do espaço de 1200 metros quadrados, os principais ecossistemas portugueses, repartindo-se assim por dez ecossistemas: urbano, montanhoso, florestal (incluindo bosque, montado e estepe), maciços calcários (incluindo grutas), sistemas aquáticos (águas rápidas, águas lentas, paul), estuário, costa arenosa, costa rochosa, oceanos e ecossistemas insulares, com enfoque nos Açores e na Madeira.

Podemos entender como ecossistema um conjunto de organismos vivos que vivem num determinado local e interagem entre si e com o meio ambiente, constituindo um sistema estável, equilibrado. No fundo, as relações de interdependência entre os intervenientes fazem aquilo a que chamamos de ecossistema.

O percurso da exposição começa num cenário urbano, onde podemos observar o amanhecer ou o o anoitecer na cidade (e os animais que com a noite aparecem). Ficamos a saber que o jacarandá, essa linda árvore de flores lilases, é uma espécie vulnerável, de acordo com o estatuto de conservação da União Internacional para a Conservação da Natureza. O facto de ver tantos jacarandás distribuídos pelas ruas de Lisboa dava-me a falsa noção de que esta espécie não devia ter problemas ao nível da conservação mas a realidade é outra. A escolha destas árvores para ornamentar as ruas das cidades também não é inocente: por ter raízes profundas, os passeios mantém-se intactos.

Foto: Ana Sofia Nunes

Começamos por reparar que ao longo da exposição há frases de escritores conhecidos espalhadas pelas paredes. Essas frases estão por norma relacionadas com o tipo de ecossistema que nos é apresentado.

Foto: Ana Sofia Nunes

Podemos entrar dentro de uma gruta e observar as espécies que nela habitam. Por se tratar de uma exposição interativa, os visitantes são convidados a acenderem as lanternas dos seus telemóveis e a espreitar para umas lupas que nos fazem descobrirem criaturas bem pequenas e que em mim despertaram muita curiosidade.

Devido também ao elevado número de animais naturalizados que aqui se encontram, esta exposição tem-se revelado bastante atrativa para crianças, de acordo com as minhas observações. As crianças adoram ver os animais e experimentar todas as interações possíveis (existem dispensadores de álcool gel em toda a exposição).

Foto: Ana Sofia Nunes

A importância dos rios também é aqui destacada: de acordo com a velocidade a que vai o rio, assim se altera também a humidade e a temperatura. Com isso, também se alteram as espécies que vivem à sua volta.

Quando chegamos à zona do montado somos convidados a experimentar a sensação de uma tempestade: ouvem-se trovões, vêm-se relâmpagos simulados, pelo que pessoas que tenham epilepsia devem estar salvaguardadas para esta questão. A própria temperatura da exposição vai sendo alterada consoante o local onde nos encontramos. A exposição é, no geral, escura, pelo que pessoas com baixa visão podem precisar de acompanhante para se orientarem. Caso alguém se desloque em cadeira de rodas, existe plataforma para aceder ao edifício no portão do lado direito da antiga entrada principal (atualmente entra-se pelo lado do Jardim Botânico). No entanto, dada a existência de irregularidades no piso da exposição, penso que a presença de um acompanhante será necessária.

Foto: Ana Sofia Nunes

Passando a zona da costa entramos no fundo do mar. Esta é a minha parte favorita da exposição: o vídeo que aí podemos ver mostra-nos pequeníssimas criaturas do fundo do mar, tão importantes para o seu equilíbrio. Fico perdida a olhar aquelas imagens. É fascinante observar a reação dos visitantes quando, após ver as imagens da baleia no vídeo, lhes digo para olharem para cima: estão na sala da baleia, onde uma réplica naturalizada se encontra acima das suas cabeças, com os seus imponentes 12 metros de comprimento. Uma jovem, portanto. Uma baleia adulta pode atingir os 25 metros.

Foto: Ana Sofia Nunes

Esta viagem pelos ecossistemas termina nas ilhas dos Açores e da Madeira: fábricas de fazer espécies.

Foto: Ana Sofia Nunes

Toda a exposição me deixa a pensar nisto: o que podemos nós fazer para não contribuir para o desequilíbrio desta harmonia de seres? Nós também somos parte destes ecossistemas: vivemos neles, dependemos deles. É na tomada de consciência da nossa dependência da harmonia dos ecossistemas que está a chave da nossa vida e da nossa sobrevivência no planeta. Como dizem no filme do Jurassic Park, “nature will find the way”. Com ou sem nós.

Esta exposição vale pelo menos uma visita. E se houver crianças na família, levem-nas. Caso haja interesse em visitas com língua gestual portuguesa, com audiodescrição ou mesmo numa sessão descontraída, contactem o museu. Vai valer a pena.

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