“Passar a semana inteira a papar museus”

Na semana passada os museus reabriram pela segunda vez, após mais um confinamento que levou ao fecho das suas portas. Esta reabertura foi alvo de notícia por parte da comunicação social e também foi anunciada pela Direção Geral do Património Cultural. Mas confesso que o que mais me marcou foi a “reportagem” feita pelo Portugalex que ouvi na Antena3.

Porta do Museu Nacional de História Natural e da Ciência

Segundo a “reportagem”, existiam quilómetros de fila à porta do Museu Nacional de Arte Antiga no dia da reabertura, tal era a ansiedade das pessoas de poder lá entrar. Um casal decidiu mesmo acampar à porta do museu para que conseguissem ser os primeiros a entrar. A “entrevistada” disse ainda: “a gente percebe que tenham fechado os museus que são sítios que estão sempre a abarrotar de gente mas custa muito”.

De facto, o fecho dos museus custou mais a quem? Às pessoas que os frequentam ou a quem neles trabalha? E quem não vai a museus, o que dirá?

“Tirem-me o futebol, tirem-me os restaurantes mas não me tirem a Arte. Eu vou passar a semana inteira a papar museus”, refere um dos “entrevistados”. Não escondo que esta “reportagem” me fez rir às gargalhadas, sobretudo quando penso na “aura sagrada” que habita alguns dos nossos museus, nomeadamente pela forma como comunicam, fazendo um convite ao estilo “estamos aqui, venha até cá”. O que é que motiva as pessoas a irem até lá? Como dizia Paulo Pires do Vale, “não basta estar de portas abertas ao público para se ser um lugar democrático, acolhedor e inclusivo”. O que é necessário então?

Esta reportagem fictícia do Portugalex fez-me imaginar (sonhar?) uma realidade em que, de facto, existiam muitas pessoas a quererem visitar/relacionar-se com os museus. Estes museus seriam locais relevantes para as pessoas, quer em termos de conforto e de acolhimento mas também de participação. As pessoas seriam convocadas a participar na programação do museu, podendo mesmo organizar fóruns onde se poderiam discutir os mais variados assuntos. As coleções destes museus seriam o gatilho destas discussões, fazendo uma ponte entre aquilo que é o objeto de estudo do museu e as questões vividas pela sociedade civil. No fundo, as pessoas seriam ouvidas.

Na semana passada voltei a entrar num museu. Na verdade, voltei a respirar museu. Sendo mediadora cultural, estes espaços dão me um tipo de oxigénio que apenas lá consigo encontrar. Espero, brevemente, poder voltar a dar o meu contributo, para que as pessoas se sintam confortáveis e acolhidas. Que lhes possa proporcionar momentos relevantes, de participação, questionamento e descoberta e, quem sabe, lhes cative a vontade de passar uma semana inteira “a papar museus”.

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