Livros? Desde sempre.

Algumas amigas que foram mães recentemente têm-me perguntado isto: a partir de que idade é que devemos começar a ler para os bebés? A minha resposta é esta: desde sempre.

O D. ouve histórias desde o útero. Histórias inventadas por mim, relatos do dia, pensamentos e devaneios que com ele fui partilhando durante a gestação. Não se escapou também às sessões de Histórias para Bebés, pois dinamizei várias quando ele estava na minha barriga.

A primeira vez que lhe li uma história depois de nascer foi quando ele tinha 15 dias. A primeira vez que o sentei ao colo e lhe pus um livro à frente tinha um mês. Desde então os livros fazem parte da vida dele, seja através da rotina, em que lemos 2/3 histórias antes de ir dormir, seja porque espontaneamente vai buscar livros às estante e conta ele as histórias aos bonecos (tem agora quase 2 anos e meio).

D., aqui com dois meses. Livro “O meu primeiro Vivaldi” da Edicare.
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Pela democracia.

Anne Applebaum é uma jornalista que escreve este livro com uma visão macro daquilo que se passa na política internacional. O Crepúsculo da Democracia é, no fundo, um alerta para todos aqueles que acreditam na vida assente na política democrática.

A autora começa por nos contar qual era a lista de convidados que ela o marido tinham para a festa de passagem de ano de há 20 anos. Todos os convidados, incluindo Anne e o marido, eram daquilo que se considera a ala direita democrática do espectro político. É interessante a análise que faz, contando as transformações que se deram desde essa época até aos dias de hoje, em que metade da lista de convidados se voltou para o populismo e o discurso extremista, atraídos para a visão de uma sociedade sob um regime ditatorial.

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O que cabe neste livro?

Tu e Eu e Todos de Marcos Farina, Orfeu Negro

Que somos todos diferentes, isso já não é novidade. As crianças sabem ler muito bem as diferenças que existem entre si e não me refiro apenas às diferenças físicas: as maneiras de ser, os modos de estar também são comtempladas pelas avaliações que fazem às pessoas. Tal como acontece com os adultos, é natural sentirem mais empatia com uns colegas, do que com outros.

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O que cabe neste livro?

Elefantes Não Entram de Lisa Mantchev ilustrado por Taeeun Yoo, Bichinho de Conto.

“Numa sociedade, se houver espaço, nunca há conflito”. Esta frase de Afonso Cruz (em “Jesus Cristo Bebia Cerveja”) podia muito bem ser uma apreciação deste Elefantes Não Entram. Como é que uma frase tão séria, de um livro para adultos, pode ser tão certeira para caracterizar um livro para crianças? Porque se trata de um livro que aborda um assunto muito sério e cada vez mais urgente. Esta história faz-nos refletir sobre a diferença que existe entre tolerar e conviver; entre aceitar diferenças e viver diariamente com elas. Viver numa aldeia global é isto. Como criar espaços de convivência harmoniosa e respeitadora quando atravessamos uma época em que, cada vez mais, se ouvem vozes segregacionistas? Como desconstruir os mitos à volta do outro, em que o ser diferente ou divergente é sinónimo de exclusão?

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Uma cerveja preta, se faz favor.

O primeiro livro que li do Afonso Cruz foi “A Boneca de Kokoschka”. A narrativa prendeu-me profundamente durante dois dias de leitura, algo que não me acontecia há muitos anos, mais precisamente desde a adolescência. Parte da ação passa-se durante a 2ª Guerra Mundial; a outra parte, no pós-guerra. Penso que, de um modo geral, todas as pessoas consideram que uma guerra é uma coisa má (ou então é ingenuidade minha pensar assim), mas neste livro, o autor faz questão de nos demonstrar detalhes do que é isso de viver uma guerra.

Toda a narrativa é pincelada de arte, não fosse Kokoschka o nome de um pintor. As artes marcam presença e a filosofia também. Trata-se de uma leitura que me tocou profundamente.

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O que cabe neste livro?

Menino Menina, de Joana Estrela, Planeta Tangerina

Por estes dias fará dois anos que frequentei uma formação sobre género na infância no Teatro Municipal São Luiz. Esta formação foi feita a par com a exibição do espetáculo “É pró menino e prá menina” de Catarina Requeijo. Embora o assunto não me fosse de todo desconhecido, a verdade é que aquele momento de partilha me ajudou a refletir sobre estas questões. Aquilo que definimos como género masculino ou feminino está fortemente ligado aos costumes de uma dada comunidade ou da cultura de uma sociedade.

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