Elefantes Não Entram de Lisa Mantchev ilustrado por Taeeun Yoo, Bichinho de Conto.
“Numa sociedade, se houver espaço, nunca há conflito”. Esta frase de Afonso Cruz (em “Jesus Cristo Bebia Cerveja”) podia muito bem ser uma apreciação deste Elefantes Não Entram. Como é que uma frase tão séria, de um livro para adultos, pode ser tão certeira para caracterizar um livro para crianças? Porque se trata de um livro que aborda um assunto muito sério e cada vez mais urgente. Esta história faz-nos refletir sobre a diferença que existe entre tolerar e conviver; entre aceitar diferenças e viver diariamente com elas. Viver numa aldeia global é isto. Como criar espaços de convivência harmoniosa e respeitadora quando atravessamos uma época em que, cada vez mais, se ouvem vozes segregacionistas? Como desconstruir os mitos à volta do outro, em que o ser diferente ou divergente é sinónimo de exclusão?

Lisa Mantchev traz-nos uma história de uma criança que tem como animal de estimação um elefante. Ter um elefante como animal de estimação acarreta uma certa logística; no entanto, devido à profunda amizade que nutrem um pelo outro, tanto a criança como o elefante vão ultrapassando as barreiras com as quais se deparam, sejam as fendas nos passeios ou simplesmente os medos que os assolam.

No Dia dos Animais de Estimação, ao chegarem à festa, deparam-se com um letreiro…

…um letreiro que dizia que os elefantes não podiam entrar na festa.

Mas os excluídos não se deixaram ficar de braços cruzados. Aliaram-se a outros e decidiram fazer a diferença. É invulgar ter um elefante como animal de estimação, sem dúvida. No entanto, também é invulgar ter doninhas, girafas ou furões como animais de estimação. Mas se pensarmos que cada ser é único, não seremos todos invulgares?

A diversidade espelha-se nas várias crianças e nos vários animais de estimação presentes na história. Neste livro cabem várias formas de representatividade: desde os vários tons de pele das crianças aos diferentes animais que compõem este cenário plural; um cenário que serve bem de metáfora à nossa sociedade e às comunidades que a compõem. As ilustrações de Taeeun Yoo são fundamentais para esta leitura.

No fundo, é isto que me move sempre que vou trabalhar: o desejo de um mundo onde caibamos todos, sem exceção.

Todos nós.
