Há uns meses atrás, quando comecei a escrever neste blog, a história O Jardim de Babaï ecoava na minha cabeça… Por esse motivo nenhuma outra me pareceu tão perfeita para retomar o meu trabalho.

Regressar ao trabalho foi sinónimo de uma nova aventura: comecei a dar aulas de Expressões Artísticas ao 1º Ciclo.

De forma a conhecer os alunos, e também de me dar a conhecer, depois de conversarmos um pouco sobre as coisas de que gostamos naquela escola, contei-lhes a história e propus que cada um imaginasse que era o Babaï: como seria o vosso jardim?
Visto que sou uma adepta do material de desperdício levei uma série de caixas de cartão. Como as crianças trazem sempre o seu próprio material de desgaste (canetas, cola, lápis…), reunimos as condições para que pudessem dar largas à imaginação. Tenho optado por dar as aulas no exterior, não só por estarmos a viver uma pandemia mas também porque acho que é o que as crianças mais precisam após um dia inteiro em sala de aula. Ocupar o espaço exterior é um ato criativo inconsciente, sobretudo quando temos de arranjar formas de estar para conseguir desenhar, recortar, colar…

Durante esta primeira semana tive a oportunidade de substituir colegas noutras turmas, o que me tem proporcionado uma visão global da criatividade das crianças…ou de como está castrada. É rara a vez em que não exista uma extrema necessidade de me vir perguntar se o que estão a fazer está bem feito, num misto de procura de aprovação do que fazem com um bloqueio da imaginação. Foram estas as razões que me motivaram a propôr a atividade à minha turma, com o intuito de perceber como está a criatividade destas crianças, que bloqueios existem e como posso contribuir para que os ultrapassem.
Também aproveitei esta primeira semana para conversar sobre as emoções que a pandemia nos tem provocado. Contei-lhes que me custou imenso estar cerca de três meses sem estar com a minha família. Um dos meus alunos disse que ficou “todo o tempo em casa…foi horrível”. Inclusive deixou de desenhar, coisa que gostava imenso de fazer nos tempos livres em casa. “Se gostas de desenhar não deixes de o fazer, experimenta voltar a desenhar!”.

A forma como as crianças se envolveram na atividade foi intensa mais do que eu esperava. Estas primeiras aulas deram-me a sensação de que este tempo, ao final do dia, serve precisamente a função que eu pretendia: relaxar de um dia inteiro dentro de uma sala, conversar sobre as vivências de cada um ao mesmo tempo que descobrimos novas formas de nos expressamos, seja através das artes visuais ou da encenação. Trata-se de um tempo privilegiado para o desenvolvimento da expressão emocional, corporal; um tempo em que nos podemos escutar ou escutar o que se passa à nossa volta.

De acordo com o documento das aprendizagens essenciais para a Educação Artística -Artes Visuais (1º Ciclo do Ensino Básico), estas aulas devem contribuir para “o alargamento e enriquecimento das experiências visual e plástica dos alunos” , bem como “para o desenvolvimento da sensibilidade estética e artística, despertando, ao longo do processo de aprendizagem, o gosto pela apreciação e fruição das diferentes circunstâncias culturais”. Espero pois, conseguir, em conjunto com as crianças, fazer destas aulas um espaço onde possam expressar as suas emoções, onde descubram e onde se descubram.
