A revista “dois pontos” na Educação para a Cidadania

Comecei a ouvir falar da dois pontos pouco depois de ter saído o primeiro número. A revista destinada a crianças dos 7 aos 11 anos estava a provocar comentários muito positivos no meio da Educação, recebendo o selo do Plano Nacional de Leitura. Se eu já estava curiosa com os seus conteúdos, fiquei ainda mais.

Posso dizer que os bons ecos provocados por esta revista independente justificam-se largamente. Trata-se de uma publicação que aborda conteúdos relevantes para a faixa etária a que se destina, dando uma forte ênfase àquilo que gerou polémica nas últimas semanas: a Educação para a Cidadania.

Esta disciplina, cujo enquadramento se situa na “relação entre o indivíduo e o mundo que o rodeia” (relação essa “construída numa dinâmica constante com os espaços físico, social,
histórico e cultural”), é aquilo que considero ser o pilar básico da educação. Ontem assisti a uma conferência promovida pela NEMO onde se refletia sobre o papel dos museus na responsabilidade social. Se estas instituições, um pouco por todo o mundo, vão reconhecendo cada vez mais o seu papel político e social em prol da democracia, a escola não pode de todo demitir-se dessa sua função.

Este número 3 da dois pontos dedica-se ao tema Comunidade. Ao longo da revista as crianças são levadas a pensar e a refletir sobre o significado desta palavra, no facto de serem parte de uma comunidade e de para ela poderem contribuir. O tempo de isolamento social não foi aqui esquecido, muito pelo contrário: faz-nos pensar sobre a dificuldade que foi não podermos estar junto dos nossos familiares, fazendo com que os mais novos pensem sobre as suas emoções em relação ao assunto.

As páginas dedicadas às emoções abordam a diferença entre os seres humanos levando ao desenvolvimento da capacidade de empatia: colocarmo-nos no lugar do outro muitas vezes não é fácil mas é meio caminho andado para que cheguemos a um entendimento. Foi por causa da diferença que a Educação para a Cidadania gerou polémica: a diferença que existe no género, a diferença que existe na orientação sexual de cada um… mas estas diferenças não são nem representam ideologia, como fizeram crer os objetores de consciência. Nas palavras de Ursula von der Leyen, a primeira mulher Presidente da Comissão Europeia, “(…) ser-se quem se é não é ideologia. É a vossa identidade”. Podem ler mais sobre isto aqui. E também podem perceber aqui que não é verdade que os dois alunos foram chumbados. A Educação para Cidadania também ajuda nisto: compreender o que é um facto e o que é uma notícia falsa.

Há anos que tenho vindo a conversar com colegas, amigos e familiares que as crianças e os jovens não podem viver alheados da política; da política sim, não dos partidos políticos, embora haja aqui uma grande relação de proximidade. Uma das coisas que me deixou muito feliz quando fiz 18 anos foi a possibilidade de votar. Este dever cívico sempre me foi incutido pela família. A política é aquilo que gere a nossa vida; é através das políticas que são implementadas que podemos ou não ter acesso a determinadas coisas. É pelo facto da dois pontos se dedicar também à abordagem da política com as crianças que me faz gostar tanto dela. É também no âmbito da Educação para a Cidadania que se abordam pelo menos duas questões que nos levam à política: “a conceção de cidadania ativa e a identificação de competências essenciais de formação cidadã (Competências para uma Cultura da Democracia)”. Ser criança é ir compreendendo, à medida que se cresce, que se faz parte de uma ou de várias comunidades; que se pode contribuir para o bem estar de outros.

Educar é parte integrante das funções da Escola da mesma forma que é esta instituição que tem o dever de atenuar/anular as desilgualdades sociais. A importância da Educação para a Cidadania reside ainda no facto de ser um motor da justiça social, e do antirracismo. Para quem quiser saber mais deixo aqui os manuais concebidos pelo Conselho da Europa. Vale a pena pelo menos espreitar.

Pela Educação das crianças, cidadãs do Mundo.

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