Ainda nada? de Christian Voltz, Kalandraka
Eis que o Ainda nada? volta a ser reeditado pela Kalandraka. Para mim foi uma longa espera… Ofereci o meu, que me acompanhava desde o tempo em que trabalhava como educadora de infância. Quando quis voltar a comprá-lo deparei-me com uma espera de mais de dois anos. Uma espera que valeu muito a pena. Este livro tinha de voltar a estar na minha biblioteca de livros ilustrados. Mais uma vez, o Ainda nada? ensinou-me a estar à espera.

Há muitas formas de trabalhar o conceito de semente com as crianças. Neste livro cabe o conceito de semente, o processo de germinação… mas também a ideia do que é a paciência, o sentimento de frustração, o amor. Este livro possibilita várias leituras de vários assuntos.

Para tornar este livro ainda mais apetecível temos a sua ilustração. Adoro o trabalho de Christian Voltz. Trabalhando com materiais diversos, recorrendo muitas vezes aos materiais de desperdício, as composições visuais que faz aliciam-nos também a aventurarmo-nos no seu imaginário, descobrindo novas formas de representar o mundo. As composições, depois de fotografadas, fazem a ilustração que acompanha a narrativa.

Em Ainda nada? também se valorizam as coisas invisíveis. Não é por não as vermos que elas não existem.

Uma das características do álbum ilustrado é precisamente quando as imagens não precisam necessariamente do texto para que a mensagem seja transmitida. Ou quando as imagens até nos dizem mais do que o texto…

Foi com este livro que, em 2012, quando ainda trabalhava em contexto escolar, juntamente com o grupo de crianças de 2 anos, a equipa de sala e alguns pais que se voluntariaram, se deu início à construção de uma horta na creche. O espaço já existia e era um recurso que não podia ser desperdiçado. Além disso, várias crianças da sala mostravam resistência em comer legumes verdes e salada.

Após a leitura e releitura da história explorámos as imagens: o que nos dizem as imagens que a história não nos conta? Uma coisa era certa: sabíamos que ao fazermos a nossa horta teríamos de ter paciência.
Quando as crianças e a equipa tomaram a decisão de construir a horta percebemos que iríamos precisar de ajuda para cavar, semear e plantar, pelo que pedimos ajuda aos pais das crianças. Além disso, cuidar da horta iria passar a fazer parte das nossas tarefas diárias.

Após algum tempo, quando começámos a ver crescer os vegetais, a alegria e o entusiasmo das crianças foi contagiante! No dia em que fomos buscar tomates e alface arregaçámos as mangas e fizemos uma salada. Nesse almoço, mesmo os mais resistentes tomaram a iniciativa de a comer. Afinal, a nossa alface era deliciosa!
Deste livro destaco uma lição: não é pelo facto das nossas ações não terem resultados imediatos que significa que não estão a resultar. Quantas vezes nos questionamos: tanto esforço e ainda nada? Mas lançámos as sementes. Elas apenas levam o seu tempo a germinar.
Esta lição também me serve.