Na semana passada fui ver Antígona, uma tragédia grega clássica com assinatura de Sófocles, encenada por André Murraças. Antígona é irmã de de Isménia, Polinices e Etéocles. Por querer dar um funeral digno ao irmão Polinices, ao ser encontrada a enterrar o corpo do irmão, Antígona é condenada a ser enterrada viva por Creonte, um tio que tomou o poder e que decretou que o corpo de Polinices devia ser abandonado, ficando à mercê dos animais. No fundo, a heroína desta história personifica o pensamento livre e a emancipação das mulheres numa época em que a população feminina não tinha qualquer tipo de voz política.

O cenário das ruínas do Teatro Romano – Museu de Lisboa encaixaram-se perfeitamente nesta ação: foi maravilhosa a sensação de estar a assistir a uma peça de teatro no local onde há dois mil anos tantas pessoas o fizeram.
Gostei particularmente da forma como toda a encenação foi pensada, desde o camarim à vista do público até à forma como o espaço foi explorado. O facto de ter sido mantida a forma como o teatro era feito à época, em que os homens interpretavam as personagens mulheres, teve, a meu ver, ainda mais impacto. Os atores eram incríveis e deixou-me surpreendida a forma como todo o espetáculo foi sendo mediado ao longo do tempo da ação, sem qualquer pretensão paternalista.
Houve espaço para a reflexão acerca da tirania e do papel das mulheres na sociedade, bem como da (in)justiça. Usando as palavras de Murraças, “Antígona é uma mulher que se opõe a um sistema feito por homens, um sistema masculino”. Pergunto: que mudanças existiram na nossa sociedade deste então? Poderemos considerar que já não estamos numa sociedade organizada por homens? Sófocles escreveu esta peça durante o século 5 antes da Era Comum. Que mudanças se deram nas mentalidades das pessoas pelo mundo fora desde então?
Ao texto de Sófocles, André Murraças juntou ainda três poemas: um de Judith Teixeira (uma das obras censuradas da coleção do Público é dela), um de Federico Garcia Lorca e outro de Johan Olof Wallin.