As Artes Plásticas na Educação – ativismo e representatividade

Ter iniciado a nova aventura de dar aulas de Expressões Artísticas e Artes Plásticas ao 1º Ciclo fez-me refletir imenso sobre Educação, o mundo das Artes nas suas várias manifestações e na responsabilidade que tenho em mãos. Cada vez mais, torna-se urgente que a Arte seja entendida como uma parte importante da Educação pois “através da Arte, o indivíduo é confrontado com diferentes realidades, desenvolve a forma de sentir e percecionar os objetos e o mundo que o rodeia, e acede a formas de conhecimento que lhe possibilitam aprender a entender outras realidades – encontra-se e reconhece-se perante a diversidade” (Lucas 2015, 49).

As minhas turmas são multiculturais: adoro a diversidade que encontro nestas crianças, seja pelas suas diferentes nacionalidades/culturas, seja pelos desafios que cada uma delas me coloca de forma a que eu vá trilhando novos caminhos, descobertas, desafios.

Atendendo ao panorama geral e às dificuldades que todos os professores, de uma forma geral, me referiram, tenho procurado enquadrar as atividades com os interesses que vou captando por parte das crianças, bem como com as preocupações manifestadas pelos professores titulares. Contrariando aquilo que  por norma se faz nas Artes Plásticas, decidi que não recorrerei aos autores ditos “conhecidos”: homens brancos europeus, americanos ou russos. Irei apresentar às crianças artistas mulheres que vão ao encontro das suas origens, ou outras origens étnico-raciais que se verifiquem pertinentes tendo em conta a multiculturalidade espelhada nestas turmas.

Pretendo “fugir” àquilo que por norma se faz, embora tenha plena consciência de que não estou a inventar a roda. Não desvalorizando os trajes ou as comidas tradicionais dos países, acredito que as Artes Plásticas devem proporcionar algo mais. A Arte é uma poderosa aliada de uma educação antirracista que promova a diversidade e a igualdade de oportunidades com fim a uma sociedade mais justa e igualitária. Como refere María Acaso “(…) hoy en día hay que reivindicar la enseñanza de las artes y la cultura visual como un área relacionada con el conocimento, con el intelecto, con los processos mentales y no sólo con los manuales, con enseñar a ver y a hacer con la cabeza y con las manos y no sólo enseñar a hacer con las manos” (2009, 17-18).

Quase todos os professores referiram que as crianças têm dificuldades de manuseamento da tesoura, sendo que a maioria das turmas que tenho correspondem aos primeiros e segundos anos. Assim sendo, o projeto desta última semana foi inspirado na pintora afromericana Alma Thomas, uma pintora e arte educadora que faleceu na década de 1970 e que teve uma grande importância para as pessoas negras. Alma acreditava que o espírito criativo era algo independente do género ou da cor da pele.

Alma Thomas e um dos seus trabalhos
Pintura de Alma Thomas

Apresentar esta artista às crianças, mostrando-lhes a sua fotografia e fazendo referência à sua nacionalidade e às suas origens africanas provocou reações nas crianças, sobretudo nas crianças negras: sorrisos rasgados, surpresa e comentários como “eu sei!”, “eu conheço!”. A representatividade a fazer o que lhe compete.

Fizemos então um levantamento das nacionalidades presentes na sala; localizámos as nacionalidades no mapa; observámos pinturas da Alma; conversámos sobre as formas geométicas presentes nas suas obras e noutras formas geométricas que conhecemos.

Sugeri assim às crianças que desenhassem na folha branca uma forma geométrica; de seguida preencheram essa forma colando quadradinhos de papel colorido recortados por elas. Aqui esteve muito presente a matemática: observei padrões, métodos de preenchimento, conjuntos, formas de contar, somar e subtrair. Os professores ficaram surpreendidos com alguns dos seus alunos: aqueles dos quais não esperavam “nada” concentraram-se e revelaram uma plena consciência de lógica matemática e sentido estético durante a atividade. A técnica de mosaico permite inúmeras possibilidades.

Este é o meu compromisso: dar a conhecer a Arte das pessoas que por norma não têm visibilidade no currículo escolar e fazer dessa Arte uma ferramenta pedagógica a vários níveis.

Referências:

Acaso, María (2009). La Educación Artística no son manualidades – Nuevas prácticas en la enseñanza de las artes y la cultura visual. Catarata.

Lucas, Ana Galvão; Lopes, Conceição; Pais, Natália (2015). E a Estética onde fica? – Conversas sobre Arte e Educação. Fundação Calouste Gulbenkian.

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