Museus e a Primeira Infância

Visita no Museu da Música Mecânica com um grupo de crianças com 2 anos, 2018
(Foto: Educadora Liliana Coelho)

A relação escola-museu tem sido tema para muitas palestras, publicações, teorias e por aí adiante. No entanto o público escolar não pode ser dado como adquirido: há que estabelecer diálogos, ligações, afetos, relações. Continuamente.

No entanto, o público escolar é vasto. Cada valência tem as suas necessidades específicas, seja por questões de desenvolvimento ou porque os interesses são variáveis.

As creches recebem bebés e crianças dos 4 meses aos 3 anos. Preparar uma visita para crianças de 2 anos é muito diferente de preparar uma visita para crianças de 5 anos. Esta especificidade por vezes assusta os mediadores e muitas vezes os próprios museus não estão preparados para receber crianças tão pequenas… a forma de comunicar não poderá ser a mesma.

Visitar um museu com crianças pequenas proporciona-lhes uma experiência diferente, fora da rotina habitual e do seu contexto. As aprendizagens que daí se retiram passam pelo conhecimento do mundo, na medida em que a sua perceção do mesmo alarga-se. É criada a possibilidade de contactar com outras pessoas que não pertencem ao seu quotidiano mas que vão de alguma forma marcá-lo. É contactar com o património que também lhes pertence, através de um processo de descoberta ativa. E é neste contacto que se vão construindo significados e aprendizagens através da coleção, aprendendo também a gostar do museu enquanto espaço de diversão, de bem-estar, de exploração e convívio. Tudo isto contribui para o desenvolvimento das crianças ao nível motor, linguístico, emocional, afetivo, social… Visitar um museu com crianças pequenas é algo único e cabe aos museus e às suas equipas educativas tornarem essa experiência relevante.

Quando trabalhei como educadora deparei-me com algumas dificuldades em fazer visitas a museus com crianças de 2/3 anos: por um lado não existia uma programação a pensar nelas; por outro lado, os lugares que nos aceitavam não estavam preparados para nos receber. Felizmente este panorama tem mudado ao longo do tempo e penso que a classe profissional dos mediadores culturais está cada vez mais bem preparada. Há ainda muito a fazer no que diz respeito à acessibilidade e ao trabalho com públicos com demência e outras doenças do foro cognitivo e psicológico mas a vontade de aprender e de aprofundar conhecimentos é notória.

Torna-se assim cada vez mais importante que as equipas educativas dos museus trabalhem em parceria com os educadores de infância. São vários os projetos que se vão conhecendo entre os museus e as escola mas na sua grande maioria são desenvolvidos com crianças mais velhas. Neste sentido, o Smithsonian National Museum of African American History & Culture criou o grupo de trabalho Early Childhood Education, que inclui educadores que trabalham com a primeira infância, bem como as famílias das crianças, de forma a especializar o trabalho desenvolvido com crianças até aos 8 anos. Que este exemplo possa inspirar os museus portugueses.

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