
Esta foi uma das perguntas que a Susana Menezes (diretora artística do Lu.Ca) lançou na passada 2ª feira, numa das sessões do curso de Mediação Cultural promovido pela Acesso Cultura. No primeiro grupo de discussão chegámos a esta conclusão: a mediação cultural é um espaço de partilha de poder.
Este é o meu ponto de vista: quando me encontro na minha posição de mediadora cultural estou plenamente consciente de que ocupo um lugar de poder. Porquê? Porque independentemente de estar a criar atividades, a orientar visitas/oficinas/, a criar uma narrativa, a escolha daquilo que é destacado está do meu lado.
Visto que trabalho como freelancer tenho colaborado com diversas instituições e todas elas têm algo em comum: embora por vezes existia um guião orientador, é-me dada liberdade para explorar os assuntos que considero pertinentes. Assim, as questões que coloco ou não, ou o espaço de diálogo que dou ou não aos participantes, centram em mim este poder.
Recentemente, numa visita-jogo com crianças dos 3 aos 5 anos, havia uma referência ao Dia das Crianças e ao Dia dos Meninos, dias comemorativos na China. Conversámos sobre isso, até porque cá comemora-se o Dia da Criança e trata-se de uma comemoração que é familiar às crianças. No entanto eu quis destacar o facto de existir o Dia dos Meninos e de não existir o Dia das Meninas. O que pensam as crianças sobre isso? Será justo os meninos terem um dia comemorativo e as meninas não?
Não é por as crianças serem muito novas que não devem ser colocadas questões como esta, muito pelo contrário. Apesar de por vezes os assuntos não nos parecerem pertinentes ou adequados, existem diversas formas de conseguirmos chegar até às crianças, adequando a nossa linguagem ou dando exemplos que lhes são familiares.
Isto é um ato de poder e um ato político. Eu poderia não o ter feito mas acredito no poder da mediação cultural enquanto ação instigadora do pensamento crítico. Pensar e ser confrontado com coisas tantas vezes contraditórias é aquilo que a cultura e as artes podem e devem fazer pela sociedade civil, questionando, agitando, transformando. E isso só acontece quando somos retirados da nossa zona de conforto, quando subitamente nos arrastaram o tapete que estava aos nossos pés.
A mediação cultural tem um papel fundamental na criação de uma cidadania política na medida em que os lugares de cultura, nomeadamente os museus, não são instituições apolíticas. Devem ser sim, lugares de transformação da esfera pública, agentes de (re)produção da sociedade civil.
